O Neosalazarismo de Esquerda
Por Henrique Raposo
"É a esquerda que precisa de Salazar. Manuel Alegre precisa de Salazar. Alegre precisa de ver um Salazar em cada esquina. E o apego a este ópio salazarista é tão grande, que Alegre já vê Salazar na UE. Para o nosso bardo de Águeda, a Europa é uma espécie de fascismo azul com estrelinhas amarelas no lugar dos fachos amarelinhos do passado. Merkel é, aliás, a Salazar de saias. Salazar, Salazar, Salazar, e uma pitada de PIDE: é tudo o que Alegre tem. Sem Salazar, Alegre não era nada. Sem a PIDE, Alegre seria um absoluto e cómico vazio. Salazar já saiu de Alegre (e do resto do país), mas Alegre não sai de Salazar.
É triste, mas é verdade: no ano da graça de 2010, Alegre ainda usa a PIDE como argumento político. Às portas de 2011, Alegre ainda precisa de invocar a PIDE para se sentir superior em relação aos adversários. Isto até seria cómico se não revelasse uma doença profunda, a saber: o provinciano complexo de superioridade das esquerdas. Ao levantarem as imaginárias lebres salazaristas, ao verem Salazares em cada esquina, as esquerdas criam o ambiente onde se sentem moralmente superiores. Aquele narizinho empinado depende da eterna presença de Salazar. Estamos em 2010, mas esta boa gente descobre sempre um Salazar em cada debate. Reforma do SNS? É um regresso ao salazarismo, segundo Arnaut. Reforma geral do Estado social? É uma vingança dos ressabiados que nunca aceitaram 1974, diz Soares. Eu nasci em 1979, defendo ideias que são o senso comum na Dinamarca ou na Polónia, mas - no meu país - sou apelidado de 'salazarista'. Defendo a europeização de Portugal, defendo ideias europeias de 2010, mas dizem-me que - na verdade - quero apenas voltar ao Portugal de 1960. E isto acaba por gerar a desonestidade intelectual que é a matriz do nosso espaço público: aqueles que querem adaptar Portugal a 2010 são cunhados de 'fascistas', 'salazaristas' ou 'neoliberais'. Sim, sim, a atual lengalenga sobre o 'neoliberal' é uma atualização do 'fascista'. Em 2010, até parecia mal apelidar alguém de 'fascista'. Donde a cunhagem do termo 'neoliberal', que é uma espécie de fascista-que-não-vai-à-missa-mas-à-bolsa-de-valores. Com um pouco de sorte, ainda descobrem que Salazar lia Friedrich Hayek na casa de banho.
Mas o mais irritante é perceber que estes-dependentes-de-Salazar são parecidos com Salazar. O que é mesmo triste é ver que estes-viciados-no-termo-neoliberal pensam como Salazar. Sim, sim, Alegre é muito parecido com Salazar. Na esteira de Salazar, Alegre é anticosmopolita e patrioteiro. À semelhança de Salazar, Alegre odeia a Europa e, sobretudo, a integração de Portugal na Europa. Tal como Salazar, Alegre é dado ao antiamericanismo, esse mingau obrigatório da velha classe política portuguesa. Seguindo a tradição paternalista de Salazar, Alegre acha que o Estado serve para proteger os portugueses do contacto com o exterior malévolo (os agiotas, o imperialismo de Bruxelas, o diktat alemão). Sim, Manuel Alegre é o candidato da linguagem salazarista, da língua de trapos nacionalista, do bolor soberanista, da retórica que pula e grita "Portugal é uma velha nação que não precisa da Europa para nada". É por isso que este eterno deputado é o cartoon perfeito de um movimento que está a ganhar força na sociedade portuguesa: o neossalazarismo de esquerda, o 'orgulhosamente sós' em versão socialista".
"É a esquerda que precisa de Salazar. Manuel Alegre precisa de Salazar. Alegre precisa de ver um Salazar em cada esquina. E o apego a este ópio salazarista é tão grande, que Alegre já vê Salazar na UE. Para o nosso bardo de Águeda, a Europa é uma espécie de fascismo azul com estrelinhas amarelas no lugar dos fachos amarelinhos do passado. Merkel é, aliás, a Salazar de saias. Salazar, Salazar, Salazar, e uma pitada de PIDE: é tudo o que Alegre tem. Sem Salazar, Alegre não era nada. Sem a PIDE, Alegre seria um absoluto e cómico vazio. Salazar já saiu de Alegre (e do resto do país), mas Alegre não sai de Salazar.
É triste, mas é verdade: no ano da graça de 2010, Alegre ainda usa a PIDE como argumento político. Às portas de 2011, Alegre ainda precisa de invocar a PIDE para se sentir superior em relação aos adversários. Isto até seria cómico se não revelasse uma doença profunda, a saber: o provinciano complexo de superioridade das esquerdas. Ao levantarem as imaginárias lebres salazaristas, ao verem Salazares em cada esquina, as esquerdas criam o ambiente onde se sentem moralmente superiores. Aquele narizinho empinado depende da eterna presença de Salazar. Estamos em 2010, mas esta boa gente descobre sempre um Salazar em cada debate. Reforma do SNS? É um regresso ao salazarismo, segundo Arnaut. Reforma geral do Estado social? É uma vingança dos ressabiados que nunca aceitaram 1974, diz Soares. Eu nasci em 1979, defendo ideias que são o senso comum na Dinamarca ou na Polónia, mas - no meu país - sou apelidado de 'salazarista'. Defendo a europeização de Portugal, defendo ideias europeias de 2010, mas dizem-me que - na verdade - quero apenas voltar ao Portugal de 1960. E isto acaba por gerar a desonestidade intelectual que é a matriz do nosso espaço público: aqueles que querem adaptar Portugal a 2010 são cunhados de 'fascistas', 'salazaristas' ou 'neoliberais'. Sim, sim, a atual lengalenga sobre o 'neoliberal' é uma atualização do 'fascista'. Em 2010, até parecia mal apelidar alguém de 'fascista'. Donde a cunhagem do termo 'neoliberal', que é uma espécie de fascista-que-não-vai-à-missa-mas-à-bolsa-de-valores. Com um pouco de sorte, ainda descobrem que Salazar lia Friedrich Hayek na casa de banho.
Mas o mais irritante é perceber que estes-dependentes-de-Salazar são parecidos com Salazar. O que é mesmo triste é ver que estes-viciados-no-termo-neoliberal pensam como Salazar. Sim, sim, Alegre é muito parecido com Salazar. Na esteira de Salazar, Alegre é anticosmopolita e patrioteiro. À semelhança de Salazar, Alegre odeia a Europa e, sobretudo, a integração de Portugal na Europa. Tal como Salazar, Alegre é dado ao antiamericanismo, esse mingau obrigatório da velha classe política portuguesa. Seguindo a tradição paternalista de Salazar, Alegre acha que o Estado serve para proteger os portugueses do contacto com o exterior malévolo (os agiotas, o imperialismo de Bruxelas, o diktat alemão). Sim, Manuel Alegre é o candidato da linguagem salazarista, da língua de trapos nacionalista, do bolor soberanista, da retórica que pula e grita "Portugal é uma velha nação que não precisa da Europa para nada". É por isso que este eterno deputado é o cartoon perfeito de um movimento que está a ganhar força na sociedade portuguesa: o neossalazarismo de esquerda, o 'orgulhosamente sós' em versão socialista".
4 Comments:
At 9:42 da tarde, Rui said…
O mal de Portugal não é o socialismo. Os políticos não defendem as pessoas mas sim os grandes interesses económicos. Não é só em Portugal mas o melhor exemplo disso acontece nos Estados Unidos. Basta começar pelo seu sistema de saúde: Inúmeros casos de recusa de pagar o tratamento a um doente pela parte das seguradoras ect, etc.
Em Portugal ainda não chegámos aí, mas o nosso amigo COELHO não espera pela demora.
Eu defendo um Estado (e uma Europa) socialista (não comunista!).
Devemos pensar no bem estar das pessoas.
Que se lixe Wall Street! Aquilo parece um casino de apostas! O CAPITALISMO DE DIREITA ESTÁ A TORNAR-SE NUMA PLUTOCRACIA (definição na wikipédia)!!!.
OS DITOS SOCIAIS-DEMOCRATAS TÊM MUITO QUE APRENDER COM OS PAÍSES NÓRDICOS!
At 9:50 da tarde, Anónimo said…
Vê os filmes CAPITALISMO -UMA HISTÓRIA DE AMOR e SICKO e depois diz qualquer coisa.
Ah, é verdade! Não os encontras em "lojas normais". O capitalismo não deixa.
E já agora vê também o fahrenheit 9/11.
At 2:45 da manhã, Anónimo said…
Acabei de descobrir este blog e acho que nunca vi nada tão mau. Nunca vi tanta ignorância numa só pessoa como aquela que o administrador do blog aparenta ter.
At 10:04 da tarde, JPRibeiro said…
Este blogue não publica opiniões do autor, e só raramente, como no caso presente, opiniões de terceiros que respeita.
A grande maioria dos posts reduzem-se à simples exposição de factos.
É que só entendendo os factos, fora do seu contexto ideológico, se poderá perceber qual é verdadeiramente o Mal de Portugal.
Enviar um comentário
<< Home