Votar para quê?
Hoje é dia de abstenção. Não é possível por uma cruz à frente do nome de qualquer um dos candidatos. O facto de um deles ser mil vezes melhor e mais sério que qualquer um dos outros não me obriga a votar nele. Não chega. O estado a que isto chegou está espelhado neste texto:
Nação Valente e Mortal por Alberto Gonçalves
Uma coisa é ler os resultados de uma sondagem encomendada pelo Projecto Farol, que inclui figuras como Belmiro de Azevedo e Proença de Carvalho e pretende, fatalmente, pensar Portugal. Outra coisa é interpretá-los.
A acreditar nos resultados, e para início de conversa, 94% dos portugueses desconfiam da classe política, 90% desconfiam do governo, 89% desconfiam dos partidos, 84% desconfiam da Assembleia da República, 76% desconfiam dos tribunais, 75% desconfiam dos sindicatos e 75% desconfiam da administração pública.
Até aqui, tudo bem. Embora políticos e afins costumem apelar à "confiança", no fundo um livre-trânsito para os seus delírios, uma certa dose do sentimento oposto é saudável. A desconfiança é necessária ao escrutínio de quem manda em nós e, sobretudo, à consciência de que esse mando não deve impedir as pessoas de conduzirem as respectivas vidas como bem entendem.
A subtileza começa a manifestar-se quando se percebe que as suspeitas face ao poder não visam escrutiná-lo e que a liberdade não é connosco: 78% dos exactos portugueses que desconfiam do Estado acham em simultâneo que o Estado é o motor da competitividade e do desenvolvimento económico. Também curioso é o facto de 54% defenderem a obrigação do Estado de apoiar as "iniciativas empreendedoras". Isto para não falar de igual percentagem de cidadãos sem vontade de abrir um negócio próprio.
Aparentemente, o único negócio que seduz a maioria do povo é a gestão do dinheiro alheio. Os portugueses que olham de viés a classe política, os partidos, o Governo, etc., são justamente aqueles que ou não se sentem adequadamente protegidos e mimados pelo poder ou, com maior probabilidade, não integram as instituições que o compõem. E que, afinal, gostariam de integrá-las a fim de, então sim, promoverem a competitividade e o desenvolvimento económico - pelo menos o deles próprios. Dito de maneira diferente, o bom povo admite que os titulares de cargos públicos andam a comer à sua custa. Apenas não deseja que o festim termine: deseja participar nele, indirectamente ou, se possível, à cabeceira da mesa.
O inquérito do Projecto Farol apurou igualmente que quase metade da população, ou da amostra do inquérito, julga que as presentes condições económicas e sociais são piores, ou muito piores, do que as anteriores ao 25 de Abril, e 58% julga-as piores, ou muito piores, do que as anteriores à adesão à CCE. Não são. Mas com o Estado e os portugueses que temos não será de admirar que fiquem.
Terça-feira, 18 de Janeiro de 2011
Nação Valente e Mortal por Alberto Gonçalves
Uma coisa é ler os resultados de uma sondagem encomendada pelo Projecto Farol, que inclui figuras como Belmiro de Azevedo e Proença de Carvalho e pretende, fatalmente, pensar Portugal. Outra coisa é interpretá-los.
A acreditar nos resultados, e para início de conversa, 94% dos portugueses desconfiam da classe política, 90% desconfiam do governo, 89% desconfiam dos partidos, 84% desconfiam da Assembleia da República, 76% desconfiam dos tribunais, 75% desconfiam dos sindicatos e 75% desconfiam da administração pública.
Até aqui, tudo bem. Embora políticos e afins costumem apelar à "confiança", no fundo um livre-trânsito para os seus delírios, uma certa dose do sentimento oposto é saudável. A desconfiança é necessária ao escrutínio de quem manda em nós e, sobretudo, à consciência de que esse mando não deve impedir as pessoas de conduzirem as respectivas vidas como bem entendem.
A subtileza começa a manifestar-se quando se percebe que as suspeitas face ao poder não visam escrutiná-lo e que a liberdade não é connosco: 78% dos exactos portugueses que desconfiam do Estado acham em simultâneo que o Estado é o motor da competitividade e do desenvolvimento económico. Também curioso é o facto de 54% defenderem a obrigação do Estado de apoiar as "iniciativas empreendedoras". Isto para não falar de igual percentagem de cidadãos sem vontade de abrir um negócio próprio.
Aparentemente, o único negócio que seduz a maioria do povo é a gestão do dinheiro alheio. Os portugueses que olham de viés a classe política, os partidos, o Governo, etc., são justamente aqueles que ou não se sentem adequadamente protegidos e mimados pelo poder ou, com maior probabilidade, não integram as instituições que o compõem. E que, afinal, gostariam de integrá-las a fim de, então sim, promoverem a competitividade e o desenvolvimento económico - pelo menos o deles próprios. Dito de maneira diferente, o bom povo admite que os titulares de cargos públicos andam a comer à sua custa. Apenas não deseja que o festim termine: deseja participar nele, indirectamente ou, se possível, à cabeceira da mesa.
O inquérito do Projecto Farol apurou igualmente que quase metade da população, ou da amostra do inquérito, julga que as presentes condições económicas e sociais são piores, ou muito piores, do que as anteriores ao 25 de Abril, e 58% julga-as piores, ou muito piores, do que as anteriores à adesão à CCE. Não são. Mas com o Estado e os portugueses que temos não será de admirar que fiquem.
Terça-feira, 18 de Janeiro de 2011
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