O MAL DE PORTUGAL CHAMA-SE SOCIALISMO

A doença de que padecemos tem um nome: EXCESSO DE ESTADO, ou numa palavra: SOCIALISMO

segunda-feira, outubro 30

Custo do Trabalho

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"É preciso perguntar do que se fala quando se fala em custos de trabalho:

Unit Labour Costs

Esta imagem, (tirada ao economist onde adicionei uma linha vermelha que marca Portugal, mostra que é mais barato contratar um trabalhador sueco do que um português. Um finlandês, então, ganha 30% menos do que um português.

Por isto, é que a GM fecha em Portugal para abrir em Espanha: um espanhol ganha menos."

quarta-feira, outubro 18

"O mais grave problema que enfrentamos hoje é o do Estado"

"O mais grave problema que enfrentamos hoje é o do Estado" dixit Medina Carreira. Para os criticos deste artigo deve-se fazer como na história dos 3 macaquinhos: é melhor não ver, não ouvir e não falar.

Aqui vai o artigo:

A crise do Estado é geral [...]. O regime fabricou um Estado inviável, com o dinheiro que não tinha, ou esperança de vir a ter, para cumprir promessas que sabia de ciência certa pura fantasia ou puro cinismo

(V. PULIDO VALENTE, Público, 6. Out.2006).


* 1. É notória a gravidade da nossa crise financeira pública. E as principais medidas anunciadas pelo Governo para enfrentá-la – o PRACE e a reforma das “pensões” -, não chegarão em tempo útil, nem terão a relevância financeira indispensável. “Economia” e “facilidade” são os nomes dessa crise. Entre 1990 e 2005 o “produto” português cresceu 2,4% em média anual, real, enquanto a “despesa corrente primária” subiu 5% (1), as “despesas sociais” 6% e as “pensões” 7%. A uma economia em queda prolongada (2) correspondeu a “explosão” das despesas públicas. As consequências não poderiam ser diversas das que foram. Agora, já com mais de uma década de atraso, há que corrigir os efeitos deste irrealismo político. Porque os governos não são hoje capazes de provocar o crescimento económico, são mais responsáveis pela moderação dos gastos.

* 2. Entre nós, não tem sido observado e entendido, com suficiente prontidão e rigor, o modo como evoluiu o último meio século europeu. Daí a notória dificuldade para aceitar o quadro essencial e premente das medidas de contenção dos gastos públicos. Distinguimos, naquele tempo, três fases bem distintas. Na primeira, até 1975, o Estado social provocou um crescimento “explosivo” das despesas públicas, sem sacrifícios fiscais, devido às elevadíssimas taxas de crescimento económico dos “30 gloriosos” anos. Na segunda, aberta pela “crise do petróleo”, de 1973, as economias desaceleraram e instabilizaram-se, e a cobertura das despesas sociais só foi possível através de sucessivos agravamentos fiscais. Por fim, e em redor de 1990, com a acentuação da debilidade das economias e a já excessiva sobrecarga dos impostos, soou o alarme europeu: uns países compreenderam-no e reformaram-se (Suécia, Dinamarca e Países-Baixos); outros não e nada fizeram (França e Itália). A estes deparou-se o inevitável: o Estado social vive do endividamento, que é um caminho sem saída. Portugal, com três décadas de atraso, repetiu o percurso da restante Europa capitalista. A sua economia cresceu a 6% (1960-1975), a 4% (1975-1990) e a 2,4% (1990-2005). Correspondentemente, a sua fiscalidade “saltou” de 21% (1975) para 36% do Pib (2005) (3). Como outros, o nosso País ficou sem “economia” e sem margem de manobra “fiscal”. E também se endivida.

* 3. Aos factores negativos que se acumularam na economia, na demografia, nos impostos e na maturação do sistema de protecção social veio acrescer o esvaziamento dos poderes do Estado nacional: já não há o intervencionismo económico eficaz dos anos cinquenta e sessenta. A perda das políticas monetária, cambial, alfandegária, orçamental e de controlo da circulação de capitais, esgotou o Estado social-democrata e “arquivou” o Keynesianismo. Como Galbraith disse, já nos anos setenta, “a época de Keynes não era eterna”. Finalmente, a liberalização internacional do comércio entregou à exclusiva capacidade competitiva das empresas locais o destino e o ritmo de desenvolvimento de cada economia nacional. No último século, os Estados nunca puderam tão pouco como hoje. Nestas novas circunstâncias, os que prometem mais “economia” e mais “emprego” não passam de vendedores de ilusões.

* 4. Segue-se que vivemos numa atmosfera plena de incertezas. O PEC/2005-2009 respeita a um tempo muito curto, foi elaborado sob a pressão da redução do défice e alimenta-se demasiado dos impostos. Não enxerga longe o nosso provável destino financeiro. E não conheço quaisquer projecções do Governo ou de outros que superem tais limitações. Face a este vazio, antecipo aqui o estado das nossas finanças públicas até 2015, com o grau de rigor que este tipo de exercício consente. Para tanto, consideram-se: a economia “provável”, com um crescimento médio anual de 2% a 2,5% (4); e a fiscalidade “suportável”, equivalente a 35-36% do Pib. Neste quadro hipotético de trabalho, a “despesa corrente primária” só poderá crescer à taxa nominal e anual de 3% (2005-2010), depois de se ter elevado à taxa de 8% (1995-2005) (5). Com um ritmo anual superior a 3%, as despesas do Estado já não serão fiscalmente financiáveis, antes de 2015.



* 5. Depois de anos e anos de irrealismo financeiro, o potencial de crescimento das despesas públicas projectá-las-ão para os 100 (2010) e os 140 mm€ (2015) (6). Porém, nestes anos e conforme as circunstâncias económicas e fiscais aqui admitidas, as receitas públicas totais serão apenas da ordem dos 80 (2010) e dos 100 mm€ (2015), respectivamente (7). Teríamos então défices da ordem dos 20 mm€ (2010) e dos 40 mm€ (2015) (11% e 19% do Pib), que seriam insuportáveis.

* 6. Sem a expectativa fundada de uma solução “económica” e de uma maior margem de manobra “fiscal” torna-se imperativa uma reforma profunda e urgente das políticas de despesas públicas. Tarde ou cedo o Estado enfrentará uma crise financeira séria, que os valores deficitários das projecções deixam entrever. Todas as reduções de gastos que forem conseguidas são positivas, mas nenhuma solução será consistente se desconhecer esta realidade: a “despesa corrente primária” e o “pessoal” + “prestações sociais” correspondem, respectivamente, a 90% e a 72% da “despesa primária” (8). O “pessoal” e as “prestações sociais” cresceram, conjuntamente, à taxa anual de 8% (1995-2005). Deverão desacelerar para 3%, já em 2005-2010 (9).

* 7. A maior parte dos gastos com o “pessoal” e com as “prestações sociais” integram as “despesas sociais”: dos 47 mm€ da “despesa corrente primária”, despendidos em 2005, 43 mm€ destinaram-se às “despesas sociais” (10). Com um tão elevado peso relativo, não se conseguirá “arrumar” as contas públicas sem desacelerar fortemente os custos do “pessoal” e das “prestações sociais”. Expresso de modo diverso: sem uma profunda reforma do “Estado social” (“despesas sociais”), o Estado português não terá sustentação financeira dentro de poucos anos.

* 8. Fixado, bem, o quadro prioritário da intervenção, o Governo pretende reduzir os gastos com o “pessoal” através do PRACE. Um dos objectivos essenciais deste consiste no abaixamento do seu peso. Fundamentalmente, importaria que diminuísse do equivalente a 15% do Pib para 10-11% (11). Em todo o caso, trata-se de uma meta que não será atingida, uma vez que: 1.º). Afastada a via dos despedimentos, haverá apenas “disponíveis”, com o direito a cerca de 50% dos vencimentos no activo; 2.º). Por cada 100 000 funcionários “disponibilizados”, reduzir-se-iam as despesas com o “pessoal” apenas em cerca de 6%. O PRACE não produzirá, por isso e em termos estritamente financeiros, o resultado indispensável: seria então preferível o congelamento dos salários actuais até 2010 (o peso do “pessoal” cairia para uns 12% do Pib).

* 9. No que respeita às “pensões” da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações estão previstas, ou já adoptadas, diversas medidas. O respectivo alcance financeiro global também será muito reduzido, em atenção a que: 1.º). O seu peso na “despesa primária” é apenas da ordem dos 20% (14 em 65 mm€, em 2005) (12); 2.º). Os efeitos plenos só serão alcançados em 2015. As “despesas sociais”, além daquelas “pensões” abrangem também a Educação, a Saúde, a ADSE e todas as demais prestações da Segurança Social. Globalmente, estas últimas equivalem a 45% da “despesa primária”. Por isso, só com a reconsideração de todas ou de grande parte das “despesas sociais” (que equivalem a 66% da “despesa primária”) será obtido um efeito significativo e suficiente: nunca e apenas com as “pensões”. Por outro lado, a manutenção do regime da repartição, tal como se pretende, irá limitar-se a diferir novas crises e novas reformas: por cada uma, haverá novas injustiças e um maior descrédito para o sistema (13). Em suma: do PRACE e da reforma das “pensões” não pode esperar-se uma solução para as contas públicas em geral, nem para as “pensões” em especial.

* 10. Não nos iludamos porque estamos numa situação em que vigora a “tirania das circunstâncias”: é secundário se se é de direita ou de esquerda, liberal ou conservador, representante da economia de mercado ou do socialismo (14). O mais grave problema que enfrentamos hoje é o do Estado: não se sustenta com a economia que temos e outra é irrealizável em tempo útil. Resta repensá-lo e reorganizá-lo. Os números com que fundamento esta posição podem ser discutidos, sempre com outros números. Mas, em circunstâncias normais, não se afastarão muito da realidade. E eles indiciam a existência de sérias ameaças a que só os néscios e os irresponsáveis podem ser indiferentes. Seja como for, ninguém poderá dizer que a gravidade da situação escapou a todos.



Notas:

(1). Representava 33% do Pib em 1995 e 40% em 2005.
(2). 6% de crescimento em 1960-1975; 4% em 1975-1990; e 2,4% em 1990-2005.
(3). Entre 1975 e 2005 a carga fiscal média da UE/15 subiu 8 pontos (de 33 para 41% do Pib), enquanto em Portugal aumentou 15 pontos (OCDE).
(4). Admite-se um crescimento médio na UE de 2,3%/ano até 2020 e de 1,1% entre 2020 e 2050 (cf. IFRI, Chronique d’un déclin annoncé, Avril 2003, cit. por LE BOUCHER, Economiquement incorrect, GRASSET, 2005, pp. 63-64).
(5). Q. anexo, cols. 1, 3 e 6.
(6). Q., cols. 4 e 7.
(7). Q., cols. 5 e 8.
(8). Q., col. 2.
(9). Q., cols. 1, 2 e 4.
(10). Q. col. 2.
(11). É a média da UE/15, em 2002, sendo: 7,9% na Alemanha; 10,3% na Espanha; 8,4% na Irlanda; 8,1% no Luxemburgo; 9,9% na Áustria; e 7,5 no Reino Unido (cf. EUROSTAT).
(12). Q., col.2.
(13). Acerca do sistema misto, vd. Livro Branco da Segurança Social, Janeiro de 1998, pp. 116 a 121. Posição do autor, pp.247 a 254.
(14). J.K. GALBRAITH, A era da incerteza, Morais Editores, 1980, pp. 13 e 14.

terça-feira, outubro 3

O escândalo nacional e a surpresa da apatia

Por João César das Neves, artigo de Opinião no Diário de Notícias


Acaba de ser publicado o relatório da "Comissão Técnica de Revisão de Vínculos, Carreiras e Remunerações na Administração Pública". Este facto, só por si, merece destaque, não pela raridade das comissões, que têm sido miríade, mas pelo quadro que traça do nosso funcionalismo. Os diagnósticos e propostas tendem a ser velhos e conhecidos; os números, esses são novos. A maior surpresa, porém, está na relativa apatia com que o documento foi recebido.

O texto confirma as piores suspeitas. O emprego na administração pública atingiu em 2004 o número astronómico de 755 mil pessoas, mais 117 mil que dez anos antes (p. 17), dez anos supostamente de rigor, reforma e contenção. Esse valor representa 14,7% do emprego nacional. A percentagem parece descer face a 2000, mas, retirando os 400 mil imigrantes que entretanto entraram, sobe bem acima dos 15%. As despesas com este pessoal representam 14,5% do PIB (p. 24) e 60,7% dos impostos (p. 31).

Níveis destes não têm paralelo na Europa, a não ser nos países nórdicos com sistemas muito diferentes. A Espanha, apesar das regiões, teve em 2000 apenas 12% do emprego no Estado (p. 26) e despesas de pessoal em 9,9% do PIB (p. 27) e 43% dos impostos (p. 31). A média comunitária é também inferior. Mais grave é estes indicadores terem descido geralmente nos nossos parceiros, continuando alegremente a subir entre nós.

O acréscimo de 2,9% do PIB em gastos com pessoal face à média europeia (p. 27) significa anualmente uma perda em Portugal de quatro mil milhões de euros. Isso equivale a cinco vezes os estádios do Euro 2004, o dobro do aeroporto da Ota e quase o custo da linha TGV Lisboa-Porto. Este colossal "aumento do peso do rácio da despesa no PIB, no período de 1990 a 2002, é explicado em 31,4% pelo aumento da despesa média [por trabalhador] e em 68,6% pelo aumento do número de efectivos" (p. 25). Os funcionários ganham mais mas, acima de tudo, são cada vez mais.

O retrato podia continuar. O pior de tudo é o que, na sua linguagem neutra, o Relatório apresenta como "acréscimo de efectivos sem justificação visível" (p. 31).

Estes enormes aumentos não tiveram, afinal, resultados.

O Estado, que já era monstruoso e tentacular há 20 anos, hoje esmaga a economia, sem trazer nada de mais. As melhorias de serviço, novos benefícios, ganhos de eficácia são ínfimos face à dimensão dos acréscimos. Por exemplo, nas "remunerações certas e permanentes", "o peso dos ministérios da "Educação, Ensino Superior e Ciência", de 2001 para 2005, passa de 46,3% para 50,9%" (p. 23), anos em que a população escolar caiu acentuadamente.

Assim nem vale a pena falar nos terríveis problemas de regimes, regalias, rigidez dos contratos. E tudo isto vem só das questões de pessoal. Os recursos desperdiçados pela acção desse pessoal, em subsídios injustificados, projectos sem fundamento, burocracias paralisantes, ficam omissos.

A administração pública é muito vasta e diversificada. Existem excelentes exemplos, pessoal dedicado, serviços eficientes. Mas este quadro global, sempre injusto para os casos pontuais, aponta para uma conclusão indesmentível: aqueles a quem o País entregou a gestão dos recursos nacionais usaram-nos, em geral, em seu proveito. Como não são tolos e têm arte, ficaram com a melhor parte.

Um facto significativo vem das enormes dificuldades dos trabalhos da Comissão. Os valores publicados são deficientes, com séries truncadas, números extrapolados, comparações parcelares, usando fontes exteriores, não internas. Se a máquina do Estado é bem definida e controlada, não devia ser tão difícil descrevê-la. Por que razão é tão custoso saber a quantos o Estado paga? Complicado é medir a indústria, o PIB, o investimento nacionais. A nebulosidade em problema estatístico tão linear aponta para a cumplicidade dos serviços nos esforços para disfarçar o descalabro.

O relatório agora publicado revela um escândalo nacional de uma dimensão e profundidade sem comparação. Os responsáveis pela catástrofe são muitos e espalhados por décadas, mas a sua acção conjunta gerou um desfalque do dinheiro dos pobres sem paralelo na nossa História. Supreendente é a apatia e indiferença com que isto foi recebido. Reclamar punições é desadequado, mas ao menos que se evitem repetições. Os actuais agentes do sector, herdeiros deste monstruoso desastre, vão definir o futuro. Pedir-lhes vergonha talvez seja difícil, mas, ao menos, que mostrem algum comedimento e embaraço